Consciência de si
Somente a partir da consciência de quem realmente somos é possível uma busca autêntica da realização pessoal, do contrário, podemos ser facilmente enganados por falsos desejos. Isso ocorre por conta de vários fatores. Geralmente o principal deles são as inúmeras expectativas que herdamos do meio em que vivemos e são incutidas em nós durante nossa educação.
Nossos cuidadores, nossa cultura e todo o meio social no qual estamos inseridos no início do nosso desenvolvimento psíquico, contribuem significativamente na formação da nossa personalidade. Dessa forma, acabamos carregando dos outros, os ideais, valores e anseios muitas vezes contraditórios entre si. Se não somos estimulados a compreender e dialogar, apenas obedecer, tendemos a sobrepondo essas opiniões externas às nossas.
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As influências do meio que são oriundas de figuras de respeito ou de muita estima, costumam ser absorvidas profundamente pela criança como verdades absolutas e inquestionáveis. Quando isto ocorre, aquilo que sentimos que não está de acordo com algo que nos é imposto, acaba sendo suprimido pela “forma correta” de se sentir, pensar e agir no mundo. Consequentemente teremos uma vida pessoal, amorosa, profissional, amistosa, religiosa já idealizada, advindas em grande parte pelas expectativas e ambições alheias, nem sempre compatíveis com nosso desejo.
A medida que vamos crescendo, naturalmente assumimos mais responsabilidades e nossas decisões resultam em consequências mais expressivas em nossas vidas. Neste estágio, o dilema entre “eu devo” e “eu quero” fica mais evidente e somos invadidos por uma grande confusão interna. A partir desse impasse surgem incertezas, receios, hesitações que nos causam muita ansiedade e angústia. Essa é a essência de muitos conflitos pessoais e inseguranças que carregamos durante a vida.
Por outro lado, não é o meio externo responsável pela nossa infelicidade. Lançar a culpa nos outros pelas nossas mazelas, seria negligenciar nossa própria negatividade. Esta postura nada mais seria do que uma defesa para justificar um outro problema, da acomodação pela vitimização. Quando acreditamos ser eternos injustiçados pelo meio, estagnamos na autopiedade e fatalmente cultivamos rancor, motivo suficiente para nos tornar os principais causadores da nossa ruína pessoal.
A ideia central aqui é justamente trazer o conceito de que devemos ser nós, os reais responsáveis por nossas escolhas, portanto, por nossas vidas. Temos a possibilidade de ir em busca de quem somos. É preciso coragem para olhar e admitirmos nossa negatividade. Precisamos ser totalmente honestos com nós mesmos para descobrir nossas limitações. Não é uma tarefa fácil, mas necessário para encontrarmos respostas, descobrir e desenvolver nossas potencialidades. Assim podemos nos tornar protagonistas da nossa própria história.
O autoconhecimento nos possibilita identificar, conscientizar, resgatar, a aprender a lidar com nossas dificuldades e valorizar o que nos é autêntico. Ao desenvolvermos a consciência de si, evidenciamos a diferença entre nossos reais anseios e as crenças preestabelecidas. As referências adquiridas do meio continuam a ser absorvidas, porém, passam a ser filtradas, ponderadas e aprimoradas pela nossa reflexão, que agora assume sua função legítima.
Se conseguimos nos reconectar com o que realmente sentimos e nos readaptamos à realidade em que vivemos, então somos capazes de tomar decisões de forma mais consciente, integrada e coerente, do contrário, ficamos sujeitos a consecutivas experiências marcadas por indecisões, frustrações, e decepções.